“Baby led weaning” e Microbiota intestinal (introdução alimentar)

Se tem uma coisa que eu esperei contando os dias foi o inicio da introdução alimentar do Luca, meu filho. Quando ele tinha uns 4 meses começei a estudar quais as formas gostaria de fazer ele disfrutar desse momento. E como amante do tema microbioma eu fui à fundo nas pesquisas de artigos científicos na área. O resultado foi que há pouquissima pesquisa nesse assunto. Por isso vou fazer um resumo para vocês.

O que é BLW?

Após ler este livro “Os bebês sabem comer sozinhos” entrei no mundo do universo BLW (do inglês baby led weaning) que é uma abordagem para a introdução de alimentos sólidos na dieta de bebês. A linha ideal do BLW é permitir que o bebê, no inicio da introdução alimentar tenha controle sobre sua alimentação. Os pais oferecem ao bebê alimentos sólidos em pedaços ou tiras adequadas para o tamanho de suas mãos, permitindo que eles peguem, toquem, cheirem, provem e, eventualmente, comam por conta própria. Lembre-se que a introdução por BLW não exclui a alimentação com purês ou papinhas. Ela só não foca intensamente nesse tipo de alimentos e prioriza sim os a apresentação de alimentos inteiros para o bebê desde sempre se acostumar com texturas, formas e apresentações dos alimentos inteiros.

Após fazer o curso de BLW da querida Maria Fernandez, Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica. Descobri muitas formas de apresentar os alimentos para o Luca, assim como receitas as quais depois fui adaptando à realidade do meu dia-a-dia (sem gluten ou lactose). Aprendi também como cortar os alimentos de forma correta, os sinais de prontidão do bebê, assim como um universo de utensílios de cozinha para ajudá-lo a comer da forma mais divertida. Para mim, os maiores benefícios do BLW são:

  • Autonomia do bebê: O bebê tem a oportunidade de pegar, explorar e levar o alimento à boca por conta própria, desenvolvendo suas habilidades motoras e de autoalimentação.
  • Respeito ao ritmo do bebê: O BLW respeita o ritmo natural do bebê, permitindo que ele decida quanto e o que comer. Os pais desempenham um papel mais passivo, oferecendo uma variedade de alimentos saudáveis.

O que diz a ciência?

Esses benefícios são provados pela ciência. Em um estudo de Arslan e colaboradores publicado neste ano pela revista científica Journal of Pediatric Nursing foi revelado que o método BLW não acarretou riscos de obesidade, anemia e deficiência de ferro (um dos maiores medos dos pediatras mais tradicionais) na transição para a alimentação complementar. Os resultados ainda indicaram que a alimentação com o método BLW promoveu a autoalimentação e a transição precoce para alimentos sólidos, sem aumentar o risco de engasgos.

Outro estudo italiano super completo publicado em 2021 na revista científica Appetite reportou insights muito interessantes. Adessi e colaboradores estudaram um total de 1245 bebês de aproximadamente 6 meses e revelam que 77.8% das mães que optaram por BLW ainda estavam oferecendo o leite materno. Estas mães optaram muito menos por utilizando colher ou com alimentos em forma de purê, o que é muito bom, parabéns aí mães Italianas. Este estudo concluiu que bebês que comeram a alimentos sólidos por meio da abordagem do baby-led weaning tinham maior probabilidade de atingir marcos importantes no desenvolvimento; por exemplo sentar-se sem apoio e engatinhar a uma idade mais precoce.

Mas o que isso tem a ver com o microbioma?

Sabe-se que os bebês nascem praticamente estéreis (digo isto porque a carga bacteriana no intestino é muito pequena, mas existem linhas de pesquisa que dizem que os bebês não são estéreis). A colonização bacteriana do intestino vem em conjunto com: a via de parto (vaginal ou cesaria), o meio em que o bebê está inserido (seja o hospital ou em casa), o convívio com animais de estimação e o convívio com a família.

É na introdução alimentar que ocorre a maior mudança na microbiota dos bebês (veja na figura abaixo). O estudo de Enav e colaboradores publicado em 2022 na revista Cell host & Microbe mostra isto. Os bebês tèm majoritariamente bactérias do gênero Bifidobacterium e esprécies que são adaptadas a degradar açúcar do leite humano (human milk oligosaccharides -HMO). Após a introdução alimentar, este grupo de bactérias diminui e um outro grupo entra em destaque, os Bacteroides. Por isso a alimentação por BLW é interessante. Quanto mais alimentos naturais, com alta quantidade de fibra e baixa quantdade de acúcares adicionados ajuda no estabelecimento de uma microbiota robusta e firme que vai sofrer pouca variação no desenvolvimento infantil.

Fonte: Enav, et al. 2022. https://doi.org/10.1016/j.chom.2022.04.009

Porém, é muito importante enfatizar que: o Baby-Led Weaning tem ganhado popularidade como uma alternativa à introdução de alimentos sólidos por meio de purês, mas é importante que os pais estejam bem informados e se sintam confortáveis com essa abordagem antes de implementá-la. Nem todos os bebês se adaptam ao BLW da mesma maneira no inicio da introdução alimentar, e a segurança do bebê é a principal preocupação ao adotar essa abordagem. Converse com um pediatra ou especialista em nutrição infantil para obter orientações específicas sobre como introduzir alimentos sólidos de forma segura e saudável para o seu bebê.

Se você quer saber mais sobre esses tema veja as referências abaixo para leitura dos artigos em completo.

“Baby-led weaning” – Progress in infant feeding or risky trend?

Alimentación infantil. Evidencias para el baby-led weaning

The developing infant gut microbiome: A strain-level view

The effect of baby-led weaning and traditional complementary feeding trainings on baby development

Para saber sobre quais as 5 dicas para cuidar da microbiota intestinal de adultos clique aqui.

 

1 thought on ““Baby led weaning” e Microbiota intestinal (introdução alimentar)”

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